Jazzistas britânicos fazem shows dentro de casa

Crise econômica e música digital motivaram a iniciativa

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No palco, o Trio Brasil, liderado pelo pianista galês Huw Warren, toca um tema de Hemeto Paschoal. A plateia atenta, espremida no cômodo pequeno, saboreia cada nota e vibra com os improvisos, que se alternam entre piano e baixo. O baterista, Zoot Warren, filho de Huw, não se intimida com os ritmos brasileiros: baião, samba e até marcha-rancho. A atmosfera é eletrizante.

Esse show poderia estar acontecendo em qualquer um dos muitos clubes de jazz espalhados pela capital britânica. Mas, na verdade, ocorre na casa do contrabaixista inglês Dudley Phillips, no norte de Londres.

Phillips e Warren representam o melhor que o jazz britânico tem a oferecer. São compositores e arranjadores com carreira própria, participaram de dezenas de discos e tocam regularmente na Grã-Bretanha e no exterior. Aliás, o currículo de Phillips impressionaria mesmo quem não está muito por dentro da cena jazzística. Ele já tocou com Mark Knopfler, Amy Winehouse e até Paul McCartney. Ele hesita, quase como se preferisse não falar do assunto, mas explica que tocou com o ex-Beatle na festa de casamento do roqueiro (o terceiro e mais recente, com a americana Nancy Shevell). Eles tocaram uma canção que o noivo havia feito em homenagem à noiva.

Mas no mundo das artes – e talvez especialmente no da música – currículo nunca foi garantia de sucesso. E hoje, sofrendo o impacto duplo da crise econômica e da chegada da música digital quase gratuita, profissionais como Phillips cada vez mais usam de criatividade e iniciativa para buscar seu público e assegurar que a música não deixe de ser tocada.

Os shows caseiros de Phillips, ou 131 Series, como ele os batizou, vêm acontecendo há mais de um ano. “Por quê? Em parte, para envolver a comunidade. Crio um ambiente gostoso e trago grandes artistas. A família também participa, os meninos recolhem os casacos, recebem o dinheiro, servem a comida. E a Betti, minha esposa, cozinha.”

A sala de estar do músico comporta, além da banda, cerca de 40 pessoas. Os ingressos – na verdade, doações feitas pelos frequentadores – ficam em torno de 20 libras por pessoa. O dinheiro cobre o cachê dos músicos e o jantar oferecido por Betti (a cozinheira e jornalista italiana Elisabeta Delsoldato).

A preocupação em oferecer um cachê “decente” reflete uma triste tendência no circuito menos comercial de música na Grã-Bretanha: os cachês caíram muito em relação ao que se pagava na década de 1990, por exemplo.

Entre as atrações que passaram pela casa do músico estão o cantor americano de blues Charlie Wood, a cantora e compositora folk inglesa Charlie Dore e a cantora inglesa Jacqui Dankworth, filha do saxofonista John Dankworth, morto há cinco anos, e da cantora Cleo Laine (juntos, os dois foram um dia o casal mais famoso do jazz britânico).

As informações são do G1.

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