Nuno Mindelis resolveu prestar tributo às suas origens de Angola, país onde morou até os 17 anos, em seu novo álbum, “Angola Blues”. O músico nasceu na cidade de Cabinda, em 1957, mudando-se para Huambo na infância e para Luanda na adolescência. Depois, foi para o Canadá e, enfim, em 1976, chegou em terras tupiniquins.
E o que a música angolana tem a ver com o blues que Nuno tanto tocou em sua carreira? Pode parecer que não exista tanta relação, visto que o guitarrista explorou vários outros gêneros em “Angola Blues”, mas é consensual entre historiadores que o blues nasceu na África.
O guitarrista falou sobre seu novo álbum e outros assuntos relacionados ao blues e à música em entrevista exclusiva à edição 108 da Guitarload (clique aqui para ler na íntegra).
“O blues tem origem na África, os historiadores já são até unânimes em afirmar isso, mas que o que eu coloquei de origem do blues ali foram esses cânticos. A música ‘Birim Birim’, por exemplo, é semba, um precursor do samba. Então, voltei ao blues lá atrás, mas coloquei uma guitarra folk. Nasci em um país que é um ancestral do blues, do soul, mas fiz um atalho mais contemporâneo”, explicou Mindelis, mencionando “Birim Birim”, canção tradicional de Angola, com autoria desconhecida, regravada para o álbum.
Outras faixas de autores desconhecidos, como “Mudiakime” e “Muxima”, foram “emprestadas” do repertório típico angolano para “Angola Blues”. Há, ainda, músicas como “Brinca N’areia” (Dikanzas do Prenda), “Mona Ki Ngi Xica” (Bonga) e “Tuala Ni Ji Henda” (Luis Ngambi), que são hits locais, bem como “Cabinda”, única autoral da tracklist, e “País Tropical”, do brasileiríssimo Jorge Ben Jor.
“Algumas rádios segmentadas de Angola tocavam rock, mas os hits eram essas músicas do álbum. Essas músicas tocavam no rádio a exaustão em Angola. ‘Birim Birim’, ‘Brinca N’Areia’, ‘Muxima’ – que é uma música que, se toca em Angola, a galera começa a chorar, é uma catarse, a ‘Aquarela do Brasil’ deles. Havia o caráter melancólico, genuinamente, pois era uma Angola colonizada e as letras falam de perda, e eram todas muito densas nesse sentido, ‘Mona Ki Ngi Xica’ tem: “minha filha, eu quero te ver amanhã quando acordar, cuidado, a morte ronda”, comentou.
Todas essas referências, que estão no sangue de Nuno, foram misturadas com doses cavalares de blues, soul e rock. “Eu ouvia Beatles, Stones, Willie Dixon, Muddy Waters, Johnny Winter, todo o rock inglês, todo o fusion, que vi nascer, ironicamente, com Airto Moreira e Flora Purim (que participam da música ‘Muxima’). Tudo isso é o meu DNA musical. Esse disco está cheio de rock, soul e blues. Uma comparação mais próxima seria o Santana, que era o maior fã de Otis Rush, um bluesman, e uniu isso com a música mexicana que ele ouvia. Ele manja daquilo, ouvia o dia todo, mas também gostava de Otis Rush”, declarou.
Dhieego Andrade (bateria), Marcos Klis (baixo), Alex Bessa (teclados), Ilker Ezaki (percussão) e Jessica Areias (voz) acompanharam Nuno Mindelis no disco, que assume voz e guitarra, nas gravações de “Angola Blues”. Houve, ainda, as participações em “Muxima” de Airto Moreira e Flora Purim, brasileiros que fizeram parte do Return to Forever (banda do lendário pianista Chick Corea) e, individualmente, colaboraram com Miles Davis, Carlos Santana, Stan Getz, entre outros.
A edição 108 da Guitarload (clique aqui para ler na íntegra) está no ar e traz a entrevista com Nuno Mindelis na íntegra, além de bate-papos com Paulo Baron e Tyler Bryant e muitos outros conteúdos sobre guitarra e guitarristas!