Quem ouve Silibrina pela primeira vez tem a tentação de definir a banda como um tipo de “Snarky Puppy brazuca”. É claro que a influência da banda norte-americana é bem evidente no conceito da banda, já que sentimos ali uma maneira de arranjar, de groovar, de construir os caminhos que remetem a fórmula consagrada pelo Snarky Puppy, mas é uma pena se você pensa que os brasileiros param por aí.
A realidade, é que o grande trunfo do Silibrina está exatamente na sua brasilidade, na verve, no sangue, na ancestralidade que corre o tempo todo na música que eles produzem.
No último 28 de junho, Silibrina realizou o show de lançamento de seu mais recente álbum intitulado “Sonambulando”. O concerto foi realizado no consagrado Cine Jóia, um antigo cinema localizado no bairro da Liberdade, em São Paulo, agora adaptado para ser uma casa de shows.
Tem um fusca no palco!
O palco estava muito bonito, com direito a um fuscão no cenário, um esquema de luzes muito bem feito, e alguns elementos interativos no palco, como um botão que era apertado para modificar as luzes toda vez que um músico iria solar. O show começou com um bom atraso. Iniciaram com uma canção mais amena, e logo percebeu-se uma situação: o baixo de Ricardinho Paraíso, um dos meus baixistas favoritos, estava com algum problema.
Fiquei mega apreensivo, já que queria ver tudo acontecer da melhor forma possível. Era nítido que aquele era um show muito especial para os caras. Dava pra ver nos olhos e nos sorrisos. O problema foi consertado por ora, mas voltaria a persistir no resto do show. A boa notícia é que isso de maneira nenhuma tirou o brilhantismo da banda e da festa que eles prepararam.
Festa junina em um show instrumental
E por falar em festa, foi exatamente o que aconteceu ontem: uma linda e emocionante celebração junina, que foi escalando num nível que eu realmente não esperava. Teve gente dançando frevo, teve boneco de Olinda, teve quadrilha, teve um “Bumba-meu-fusca”, correio deselegante.
Os músicos começaram no palco e terminaram no meio da galera, junto a um grupo de percussão convidado para agitar quem assistia. A explosão de musicalidade da banda foi só um meio de espalhar alegria para o público no Cine Jóia ontem. Tudo a ver com o nome da banda, que remete aos festejos pré-juninos.
O repertório, cheio de elementos da música nordestina e nortista, estava excelente. Tudo executado com muita qualidade e sem parecer nada forçado – tudo soava muito natural. Os guitarristas Igor Bollos e Gileno Foiquinos destilaram simpatia e agitaram os espectadores.
As participações de Antonio Nóbrega, pai do pianista e líder da banda Gabriel Nóbrega, e de Alisson Lima, multi-artista que cantou, pulou e brincou, abrilhantaram demais a noite, transbordando alegria, carisma e puro talento brasileiro.
Silibrina é coisa nossa!
Acho que por ser filho de nordestinos, tudo que remete às manifestações culturais desses lados do país me tocam muito. De repente, no meio de todo esse espetáculo, senti no rosto algumas lágrimas de alegria.
Me emocionei vendo a beleza da arte do nosso povo e de quanto a música instrumental pode cativar o coração de quem a experimenta. A nossa música é espetacular, a nossa cultura é espetacular, a nossa gente é espetacular e espero que você saiba disso.
Por fim, Silibrina é coisa nossa (fazendo menção ao bordão do meu refrigerante favorito e brasiliero)! Coisa que mesmo na linda homenagem que Snarky Puppy fez a nossa música na faixa Tio Macaco, ainda falta aquela coisinha – o coentro, a charque, o “cuicui”. Não falta groove para eles, falta “remelexo”. E aqui nós temos, e temos muito!
Para mais informações sobre a banda, acesse: silibrina.band
