A Fender, uma das marcas mais icônicas do mundo das guitarras, vive um momento de turbulência. Pressionada por tarifas de importação e pelo enfraquecimento do consumo global, a companhia foi obrigada a reajustar seus preços e repensar sua estratégia de mercado. Mas até que ponto isso afeta guitarristas e revendedores?
Fender sob pressão econômica
De acordo com a agência de análises financeiras S&P Global, a Fender implementou um aumento médio de 5% em todo o seu portfólio no primeiro semestre de 2025. O objetivo foi compensar os custos mais altos das tarifas, especialmente da China, que responde por 40% de suas compras. Metade desse volume chega ao mercado norte-americano, onde a disputa comercial está mais acirrada.
Na prática, um instrumento que antes custava US$ 1.000 agora sai por US$ 1.050 — algo em torno de R$ 5.750 na conversão direta, sem considerar taxas ou impostos de importação. Para o consumidor brasileiro, isso significa que guitarras que já eram caras tendem a ficar ainda mais distantes do orçamento médio.

Vendas acima do esperado, mas com sinais de alerta
O relatório aponta que as vendas diretas para distribuidores superaram as expectativas, com redes como Sweetwater e Guitar Center mantendo resultados sólidos. Consumidores de maior renda continuam buscando a marca pelo prestígio e pela tradição.
Entretanto, o cenário não é tão otimista. A S&P Global alerta para a queda no volume de vendas finais, reflexo do menor gasto discricionário do consumidor comum. Muitos músicos têm preferido recorrer ao mercado de segunda mão, onde guitarras usadas oferecem preços mais competitivos.
A resposta da Fender frente aos concorrentes
Apesar dos desafios, a estratégia da Fender é considerada mais eficaz do que a de alguns concorrentes. Enquanto outras marcas reduziram importações da China sem aumentar preços, a Fender manteve o fluxo e absorveu parte do impacto. Essa decisão ajudou a preservar a presença global da marca, mas também elevou os riscos para os próximos meses.
Perspectivas para os próximos anos
Segundo a previsão da S&P Global, a Fender pode experimentar uma leve recuperação a partir de 2026, impulsionada por novas inovações em seus modelos. Porém, a tendência é que o crescimento da receita seja mínimo, já que os consumidores permanecem cautelosos em gastar com instrumentos de alto valor.
Outro ponto crítico é a dependência da empresa em relação às vendas de fim de ano. Qualquer enfraquecimento no sentimento do consumidor, aliado ao crescimento do mercado de guitarras usadas, pode agravar as quedas de volume.
Um reflexo de todo o mercado de instrumentos musicais
A crise não é exclusiva da Fender. Um estudo recente do Instituto Peterson de Economia Internacional revelou que, entre janeiro e julho de 2025, as exportações de instrumentos musicais dos EUA caíram 8,4% em relação à média de 2021 a 2024. Países como Brasil, Canadá e China estão entre os que mais reduziram as importações.

Esse cenário é resultado de tarifas, aumento de custos ao consumidor e até da substituição de produtos americanos por alternativas de outros mercados. Para o CEO da NAMM, John Mlynczak, a indústria de instrumentos dos EUA enfrenta um de seus períodos mais desafiadores em décadas.
Na prática, músicos que sonham em ter uma Fender nova precisarão lidar com valores cada vez mais altos. Para muitos, o mercado de usados pode se tornar a principal alternativa. Já para a Fender, o desafio será equilibrar tradição, inovação e preço em um ambiente econômico global que segue instável.



