Dave Navarro voltou a comentar sua breve, porém marcante, passagem pelo Red Hot Chili Peppers. Em entrevista recente ao Guitar World, o guitarrista discutiu a reação dos fãs, os desafios de substituir John Frusciante e as dificuldades criativas durante a gravação de One Hot Minute.
A reflexão expõe uma fase de transição intensa para o grupo e revela detalhes de bastidores pouco conhecidos pelo público.
Pressão imediata após assumir o posto de Frusciante
O início dos anos 90 marcou uma virada importante para o RHCP. O sucesso gigantesco de Blood Sugar Sex Magik elevou o status da banda e definiu um novo padrão de expectativa. A saída de John Frusciante, em 1992, criou um vácuo artístico difícil de preencher. Navarro entrou para tentar estabilizar a situação, mas logo percebeu o peso da comparação direta com seu antecessor.
Ele afirma que sentiu rapidamente um distanciamento musical entre sua formação e a identidade do grupo. Navarro vinha de uma estética mais sombria e alternativa. Já o RHCP operava com uma base profundamente ligada ao funk e ao groove californiano. A diferença criativa tornou o processo desafiador desde o primeiro ensaio.
A sensação de tocar “numa banda cover com a banda original”
Durante as gravações do disco One Hot Minute, lançado em 1995, Navarro começou a entender a complexidade dessa união de estilos. Ele descreve a experiência como “estranha”, afirmando que às vezes parecia tocar “numa banda cover junto com a banda original”. Essa percepção surgiu da mistura de linguagens musicais, que nem sempre se encaixava da forma esperada.
Apesar disso, o álbum foi bem-sucedido comercialmente, chegou ao disco de platina e permanece como um dos registros mais distintos da discografia do RHCP. Mesmo assim, a recepção na época foi dividida. Parte do público considerava o som muito distante da proposta tradicional da banda. Essa resistência contribuiu para a pressão que Navarro enfrentou.
A reação dos fãs e o impacto dentro da banda
Navarro relembra que muitos fãs não aceitaram sua presença no grupo. Para eles, sua entrada representava a ausência de Frusciante. Ele afirma que as críticas recaíam sobre sua figura, apesar do convite ter vindo diretamente dos próprios integrantes. A situação criou um clima de cobrança constante, que afetou os músicos individualmente.
A recepção morna do álbum também gerou dúvidas sobre o caminho que o RHCP estava seguindo. Navarro diz que sentia o “peso” dessa expectativa e percebeu que a banda estava longe de alcançar o impacto obtido no ciclo anterior. Essa tensão interna contribuiu para a sensação de desconexão crescente.
Desafios no estúdio ao trabalhar com Rick Rubin
O guitarrista também falou sobre o processo criativo ao lado de Rick Rubin. Navarro, acostumado a registrar muitas ideias e camadas de guitarra antes de decidir o que manter, encontrou uma abordagem bem diferente no estúdio. Rubin preferia gravações diretas, com menos sobreposições e mais proximidade do som real da banda.
Essa diferença de método exigiu adaptação e gerou conflitos artísticos. Mesmo assim, Navarro reconhece a qualidade da produção e o impacto que o álbum teve em sua carreira. Para ele, One Hot Minute segue como um ponto importante de sua trajetória, apesar dos desafios vividos com o RHCP.



