Em recente entrevista, o lendário guitarrista John McLaughlin compartilhou uma visão crítica — e ao mesmo tempo esperançosa — sobre o estado atual do jazz contemporâneo. O músico, conhecido por expandir os limites da guitarra e fundir estilos com virtuosismo incomparável, afirmou estar “decepcionado” com parte do que é considerado jazz hoje, classificando o cenário como “muito superficial”.
Segundo McLaughlin, o que falta em muitos shows e gravações atuais é paixão verdadeira. “Vou a shows e eles não me levam a lugar nenhum. É muito superficial. O mundo hoje é diferente”, declarou. Para o guitarrista, a música precisa emocionar antes de impressionar tecnicamente. “Quero ser arrebatado pela emoção, pela pura musicalidade e pelo amor. Quero sentir o sangue correndo na performance.”
Apesar das críticas, McLaughlin nega que o jazz esteja morto. “Isso nunca vai acabar. Mas estou decepcionado… cresci com a velha escola, sabe?”, disse, relembrando suas primeiras experiências com o gênero ainda adolescente, em pubs no norte da Inglaterra.
Ele contou como, aos 16 anos, teve sua primeira lição de humildade ao tentar tocar com músicos experientes em uma jam session. “Foi uma das músicas mais rápidas já gravadas — ‘Cherokee’. Eu fiquei chapado. Aprendi mais em 10 minutos do que nos dois anos anteriores.” Essa vivência, segundo ele, moldou sua relação com o jazz e com o ato de tocar em grupo.
A salvação do jazz moderno
Para McLaughlin, o que falta no jazz moderno é o mesmo espírito vibrante que ele sentia nos anos 1960 — época marcada por nomes como John Coltrane, Miles Davis e Jimi Hendrix, além de um contexto de transformação social intensa. “Crescer naquele mundo elevou o padrão. E é difícil comparar qualquer coisa com aquilo”, afirmou.
Mesmo com a crítica, McLaughlin demonstra otimismo quanto à nova geração de músicos. O guitarrista revelou estar colaborando com jovens instrumentistas em um projeto que visa justamente reacender essa chama criativa. “Estou apresentando músicos de diferentes academias da Europa com meu quarteto. O nível é alto, e fico muito impressionado com o talento deles”, contou.
Seu mais recente trabalho, Live at Montreux Jazz Festival 2022, é prova de que McLaughlin segue explorando novos caminhos sonoros sem abandonar a essência. Ele acredita que a evolução do jazz depende da capacidade dos artistas de unir técnica, emoção e autenticidade. “Há um futuro, sim. Mas quando ouço, quero que essa paixão esteja lá — junto da técnica e do amor pela música”, concluiu.
Com mais de seis décadas de carreira, John McLaughlin continua sendo uma das vozes mais respeitadas e visionárias do jazz. Suas reflexões ecoam como um chamado para que as novas gerações redescubram a alma do gênero — aquela que, segundo ele, nunca deixou de existir, apenas precisa ser sentida novamente.





