O guitarrista Steve Howe, do Yes, voltou a defender uma abordagem intuitiva para a improvisação na guitarra. Em nova entrevista à revista Uncut, o músico afirmou que guitarristas não precisam dominar cada centímetro do braço do instrumento para criar solos expressivos — uma declaração que entra diretamente no debate reacendido no início do ano por Cory Wong e Joe Satriani.
Para Howe, a improvisação nasce mais da “trama” musical do que do acúmulo de informação técnica. Ele diz que sua formação majoritariamente autodidata moldou um estilo orientado pela audição e pela relação emocional com o ritmo, e não pela análise nota a nota.
A música entrava na minha cabeça e eu colocava os dedos nos trastes […] Se eu reconhecia a tonalidade, eu já sabia onde me encaixar”
Steve Howe
Howe defende que a improvisação se sustenta em um ponto de partida simples, mas cheio de significado. “É por isso que gosto tanto de improvisar”, afirma. “Você não precisa de muita informação. Basta um pouco da história que a música quer contar.”
Essa visão contrasta com a abordagem proposta por Cory Wong, que defende que guitarristas avançados deveriam conhecer cada nota do braço da guitarra — posição apoiada por Satriani e contestada com humor por Jack White.
Para Steve, decorar tudo não só não é necessário como pode limitar a fluidez criativa. Para ele, a música funciona como um mapa flexível, e não como um conjunto rígido de regras. O guitarrista reforça que o instrumento “mostra caminhos”, mas não exige memorização total para que o improviso aconteça de forma orgânica.
Ritmo como fundamento da expressão musical
Entre as declarações mais enfáticas da entrevista está a defesa do ritmo como verdadeira espinha dorsal da música. Howe afirma que as notas, isoladas, “não têm muito significado” sem um contexto rítmico forte — algo que considera parte essencial da sua identidade artística. “Eu sinto os ritmos”, diz. “As pessoas falam sobre compassos, mas eu não penso se algo está em 5/4 ou não. Eu preciso sentir como é tocar em 5/4.”
Essa conexão profunda com o pulso musical, segundo o guitarrista, tem origem familiar. Dois de seus filhos são bateristas, incluindo Virgil Howe, falecido em 2017. Howe conta que poderia ter seguido o mesmo caminho e que sempre teve fascínio por percussão. Essa sensibilidade rítmica, afirma, influencia diretamente sua forma de improvisar.





