O guitarrista Tosin Abasi voltou a provocar debate ao questionar a dependência excessiva da leitura de partituras no processo de estudo musical. Segundo o músico, a prática constante de tocar guiado apenas por notação pode comprometer diretamente o desenvolvimento do groove e da musicalidade, mesmo em instrumentistas tecnicamente avançados.
Para Abasi, o problema não está na leitura em si, mas no uso contínuo desse recurso como base principal da execução. Ele afirma que, quando o músico passa a reagir prioritariamente a informações visuais, a conexão com o tempo, o pulso e a intenção rítmica tende a se enfraquecer, resultando em performances corretas do ponto de vista técnico, porém pobres em fluidez e sensação rítmica.
A limitação da leitura como centro do aprendizado
Abasi explica que a leitura constante transforma a execução em um processo de decodificação. O músico lê, interpreta e executa, criando um pequeno atraso entre a intenção musical e o som produzido. Esse distanciamento, segundo ele, prejudica o groove, que depende de resposta imediata e natural ao ritmo.
Na visão do guitarrista, a música precisa ser sentida antes de ser tocada. Quando a partitura se torna o centro do aprendizado, o corpo deixa de participar plenamente do processo, e o tempo passa a ser contado em vez de percebido de forma orgânica.
Internalização como ferramenta essencial
Como alternativa, Abasi defende a internalização completa da música antes da execução. Ele sugere que o músico ouça repetidamente o material até absorver melodia, acentuações, subdivisões rítmicas e dinâmica geral. Somente depois disso a execução deve acontecer.
Segundo ele, tocar de memória fortalece a relação entre ouvido, corpo e instrumento. Esse processo reduz a dependência visual e permite que o músico reaja ao som em tempo real, favorecendo uma performance mais solta, musical e coerente.
Técnica avançada sem groove não se sustenta
Apesar de ser reconhecido por extrema precisão técnica e domínio rítmico, Abasi deixa claro que não é contrário ao estudo formal. Pelo contrário. Ele ressalta que técnica e teoria são ferramentas fundamentais, mas não devem substituir a musicalidade.
Para o guitarrista, existe um risco real de músicos extremamente técnicos soarem mecânicos quando não desenvolvem o groove. A técnica, segundo ele, só faz sentido quando está a serviço da música e da comunicação sonora. Abasi reforça que o groove não nasce da leitura, mas da escuta ativa e da percepção corporal do tempo. O músico precisa sentir o pulso, antecipar ou atrasar levemente frases e reagir de forma intuitiva à música.
Quando a execução depende excessivamente da partitura, essa percepção se enfraquece. O tempo deixa de ser vivido e passa a ser seguido. Para Abasi, essa diferença é decisiva na qualidade da performance.
Exercício prático sugerido por Abasi
Como exercício simples, Abasi recomenda que o músico ouça a música até conseguir reproduzi-la mentalmente sem referência externa. Em seguida, deve tocar sem consultar partituras, cifras ou tablaturas.
Segundo ele, o impacto dessa mudança é imediato. A execução tende a ganhar naturalidade, melhor articulação rítmica e maior conexão com o groove, mesmo em músicas complexas.





