O System of a Down encerrou, na quarta-feira (14), no Autódromo de Interlagos (SP), a perna sul-americana da turnê “Wake Up!”, que passou pela Argentina, Peru, Colômbia e diversas capitais aqui no Brasil.
Com o “sobrenome” Stadium Tour, a sequência de megashows em estádios e autódromos foi marcada por muita energia dos fãs e mosh pits regados a sinalizadores e pirotecnia…do público. A cada registro que subia nas redes, a expectativa aumentava e os fãs brasileiros correspondiam a cada show, cantando clássicos e “não-tão-clássicos” a plenos pulmões.
A turnê foi um sucesso inegável e o último show foi épico… embora a minha experiência não tenha sido muito boa, infelizmente.
Vamos primeiro aos pontos positivos
Fui uma criança dos anos 2000. Inevitavelmente, fui bombardeado com Linkin Parks, Simple Plans, Charlie Brown Jrs. e System of a Downs nas rádios e televisão. Quando chegou a internet então, nem se fala! Entenda… essa era a trilha sonora do mundo naquela época. Você ia à mercearia do “Seu Zé”, comprar um guaraná KS, depois de ter jogado bola na rua, e estava tocando “Toxicity” no ar, assim, sabe? Igual no GTA San Andreas, vai rolando as rádios assim… no meio da vida. Você caminhava e rolava “Chop Suey!”, “Radio/Video” e “B.Y.O.B”, como se fosse trilha de um filme. Não acredita em mim? Eu te juro! (Ou talvez seja só a cabeça do pequeno Murillinho que vivia fluindo música internamente). Seja como for, o SOAD foi o hino de uma geração inteira, que comemorouu quando a banda anunciou o retorno para uma série grandiosa de shows. Eu também celebrei e criei expectativas.
System of a Down aposta no estranho, não polido, bagunçado e, sobretudo, pesado! Você ouve isso no timbre de guitarra, nos arranjos, nos blast beats, nas performances exóticas de uma banda com um background tão exótico. Armênios de nascimento e/ou de ascendência, a banda traz à baila influências musicais de sua antiga terra, que é a base de seu tempero, e completa a sua acidez com letras críticas e, muitas vezes, insanas. O carisma da banda está exatamente no esquisito, coisa que o mais esquisito da banda, o guitarrista esquisito Daron Malakian, fez questão de frisar “eu sou esquisito” – antes de dilacerar um riff pesadíssimo seguindo para a próxima canção.
Do lado da banda, a entrega foi plena. Tudo que se espera do System of a Down ao vivo, eles fizeram e muito bem. O show contou com um setlist especial de 38 músicas – o maior da turnê até então – que incluíram os maiores hits da banda. Além disso, o clima entre o quartetoa parecia muito bom. Foi bem legal ver Daron abraçando Shavo Odadjian (baixista) após um solo de guitarra feiíssimo. Alegria demais! Será que os caras engatam de novo e se animam a lançar coisas novas? Espero que sim!
A mix da banda estava razoavelmente boa. O timbre de guitarra estava forte, muito presente, e bem semelhante ao que se ouve nos álbuns. Não é um timbre polido, mas a gente já sabe que isso faz parte da estética da banda, não é? Daron usou duas guitarras lindíssimas: uma Gibson SG e uma Ibanez Iceman com finalização preta e hardware dourado. Pelo que consegui ver em vídeos de backstage, ele usou três caixas Marshall 4×12. Prés, hacks e pedais não consegui ver.
O palco estava muito bonito. As luzes foram um espetáculo à parte. Ainda destaco o background, formado por um painel enorme que simulava um telão quebrado. Sacada excelente!
Agora vamos aos pontos negativos
Essa foi minha primeira experiência em um show no Autódromo de Interlagos – e foi extremamente frustrante. O local é horrível de acessar, de assistir, de estrutura, de estacionamento. Tive a “brilhante” ideia de ir de carro. Demorei 3 horas para fazer um trajeto de 45 minutos (sim, aqui em São Paulo, medimos a distância pelo tempo). Perdi várias músicas, duas das que eu mais queria ouvir (“Prison Song” e “Aerials”). Por conta disso, tive que ficar atrás de toda aquela multidão de milhares de pessoas. Minha visão do palco era mínima, já que a estrutura da pista não privilegia espectadores de um show – privilegia carros correndo. Não foram poucas pessoas que chegaram comigo e foram embora imediatamente ao se depararem com a visão péssima do evento. Muitas outras acabaram se contentando em assistir dos corredores, pois conseguiam ver um pouco mais os telões acima do extenso tapume, mesmo que para isso tivessem que ouvir a banda como se fosse em um radinho de pilha.
Falando de som, senti muita falta da voz de Serj Tankian nos PA’s. Para mim, seu timbre anasalado e fora dos padrões, somado com as linhas melódicas e rítmicas de seus vocais, são partes cruciais da sonoridade da banda. Não me leve a mal, adoro Serj Tankian cantando, mas com um vocal tão apagado na mix, me soou como uma vovó ranzinza reclamando no meio do ensaio de uma banda de garagem.
O pior de tudo para mim foi a dificuldade em imergir no show. Fora todo o estresse para chegar ao evento, fiquei frustrado na minha expectativa de ouvir a massa sonora que esperava de um show do SOAD. Veja, certamente quem estava de frente para o palco sentiu o punch da banda, mas a outra multidão que estava lá atrás comigo ouviu um som tímido para a energia daquele show. O resultado foi um público amornado por uma experiência desconfortável. Uma pena! Senti que poderia ter tido uma experiência muito mais intensa, se fosse em outro lugar.
Por fim, para mim foi um excelente show para uma experiência ruim. O Murillo criança ainda não está satisfeito. Vou considerar que ainda não vi, de fato, um show do System of a Down e vou aguardar a próxima oportunidade. Só espero que eles não briguem de novo (risos).
SET LIST System of a Down – SP 14/05/2025
- X
- Attack
- Suite-Pee
- Prison Song
- Violent Pornography
- Aerials
- Mr. Jack
- I-E-A-I-A-I-O
- Genocidal Humanoidz
- A.D.D.
- 36
- Pictures
- Highway Song
- Needles
- Deer Dance
- Soldier Side – Intro
- Soldier Side
- B.Y.O.B.
- Radio/Video
- Bubbles
- Dreaming (somente o breakdown)
- Hypnotize
- ATWA
- Bounce
- Suggestions
- Psycho
- Chop Suey!
- Lost in Hollywood (com trecho de “Careless Whisper”, de George Michael)
- Lonely Day
- Streamline
- Mind
- Spiders
- Forest
- Cigaro
- War?
- Roulette
- Toxicity
- Sugar