O guitarrista carioca Ismael Serpa lançou no fim de setembro o EP The Inside Perceptions, que inclui quatro faixas instrumentais que sintetizam alguns dos principais trunfos do metal moderno: peso, ambientação e melodias refinadas são alguns deles. Não é exagero dizer que o lançamento gabarita o músico a adentrar a lista dos principais nomes da sonoridade no Brasil.
Nesse contexto, o registro pode ser facilmente classificado como surpreendente, mas não deveria. Explico: apesar de (ainda) pouco conhecido, Ismael trilha uma carreira sólida e repleta de frutos positivos. Sem estardalhaço e com muito talento, há tempos o músico independente tem se mostrado capaz de encher de orgulho qualquer fã brasileiro de som extremo.
Ismael Serpa – The Inside Perceptions
Acima de tudo, o novo EP apresenta um clima dark e envolvente, mesclando riffs supergraves com solos que simplesmente grudam na cabeça. O bom gosto é latente: licks ultravelozes e melodias palatáveis coabitam com naturalidade, atributo comumente identificado nos grandes guitarristas do mundo.
Falando de guitarristas, Ismael é um fã confesso do guatemalteco Hedras Ramos. Ao mesmo tempo, a gravação revela pitadas de influência de nomes como Plini, Tosin Abasi e John Petrucci. À lista de acertos da obra, somam-se a bela qualidade sonora e a temática por trás das composições.
“O conceito principal vem da inquietude pelo novo”, explica o músico. “Surgiu de reflexões sobre os primórdios sagrados e sua conexão com a atualidade. Esteticamente, isso fica perceptível por meio dos elementos gregorianos em ‘Sacred’ e na forma modernista de ‘Pathos’.”
Destaques
Todas as faixas são cativantes, mas o tema de abertura escancara a maturidade de Ismael Serpa. Com paciência e confiança, ele cria o alicerce de todo o EP por meio de arranjos muito bem trabalhados. Quando chega a vez do solo, a música leva o ouvinte a um nível distinto de abstração.
Outra faixa que merece menção é “Omniscience”, que traduz muito bem os principais aspectos da abordagem musical de Ismael Serpa: bases e solos que dividem a mesma importância; técnica evidente, mas que trabalha a favor da música; tema melódico rico e lúdico.
“Esse trabalho foi atípico, pois trouxe um misto entre um fluxo ótimo de ideias e desafios mais complexos”, conta Ismael. “Algumas faixas vieram muito rapidamente, como ‘Omniscience’, e outras trouxeram tarefas maiores devido à estética pretendida”, completa.
A adição de elementos de beat/trap também merece aplausos, já que ocorre de forma orgânica em todas as faixas do EP. Nesse ponto, destaca-se a certeira mixagem de Rodrigo Itaboray, que também fez a masterização. “Ele é um profissional incrível, a quem devo muita gratidão”, pontua o guitarrista.
Para obter os timbres do EP, Ismael usou uma guitarra Ibanez JEM JR com plugins que simulam o som dos amplificadores Mesa Dual Rectifier e Engl Powerball. “Samples e programações foram feitos no MLDrums. Usei também o Arturia Analog Lab V, o Rowdy Bass e o Ujam Glory”, revela.
Quem é Ismael Serpa
Nascido na cidade do Rio de Janeiro e atual morador de Minas Gerais, o guitarrista Ismael Serpa tem 37 anos e trilha uma carreira independente focada na música instrumental. Começou a tocar aos dez anos de idade por causa de nomes como Joe Satriani e John Petrucci, somando posteriormente referências modernas que incluem Hedras Ramos, Tosin Abasi e Aaron Marshall.
“Vejo o artista como um instrumento que utiliza instrumentos na finalidade de expressar algo”, afirma Ismael Serpa. “Acredito que ele é um canal que leva inspiração, reflexão, euforia, impacto e tudo mais que a música pode proporcionar. Portanto, meu sonho principal é poder fazer isso para mais e mais pessoas por meio do meu trabalho”, encerra.
O EP The Inside Perceptions está disponível nas principais plataformas digitais.