“O rock morreu!”, proclamam alguns.
No último sábado (5), a banda Supercombo subiu ao palco da Casa Natura Musical, em São Paulo, para um show especial — tanto para os fãs quanto para a própria banda. O evento marcou o encerramento da turnê do álbum Remédios e vinha sendo planejado há mais de um ano. Para deixar a noite ainda mais memorável, eles contaram com a participação de uma versão compacta da Nova Orquestra, com um quarteto de cordas, um trombone e um trompete. Para fechar o arranjo musical, uma centena de fãs apaixonados cantaram a plenos pulmões o repertório completo.
E por falar em repertório, o setlist da noite foi recheado de hits, incluindo Amianto, Maremotos, Sol da Manhã e Piloto Automático — essa última, aliás, já ultrapassou a impressionante marca de 29 milhões de streamings só no Spotify. E, claro, também teve espaço para as faixas do álbum mais recente do grupo.
Quero começar falando do espaço que recebeu o concerto. Foi a primeira vez que estive na Casa Natura Musical, e a experiência foi muito boa. O espaço é muito bem organizado, limpo e com o tamanho que considero ideal para uma casa de shows confortável (lotação máxima de 1.000 pessoas em pé). Os caixas e o bar eram de fácil acesso e sem muita demora. E sim, os sabonetes dos banheiros são todos da Natura (mesmo que você não curta o show, pelo menos vai pra casa cheiroso, haha).
Como foi o último show da turnê Remédios, do Supercombo?
Procurei ficar próximo à house mix para ter a melhor referência sonora da casa. Neste caso, ela ficava mais para a esquerda, não muito centralizada em relação à pista, o que trouxe uma imagem de som um pouco diferente do que estava chegando para a maior parte do público. Mesmo assim, o áudio estava muito bom — bem mixado e com um volume ideal.
O show começou com mais ou menos 15 minutos de atraso (o que já é uma vitória, dada nossa fama brasileira de atrasados). No palco, o frontman Leo Ramos (guitarra e voz) e a frontwoman Carol Navarro (baixo e voz) — que tem tanta presença de palco quanto Leo — esbanjaram simpatia ao lado de seus parceiros de banda, Paulo Vaz (teclados) e André Dea (bateria). Não faltou energia e entrega na performance dos Supercombo, que estavam nitidamente empolgados com aquela noite. Eles abriram o concerto executando as faixas Cassino, Intervenção, Bonsai e Menina Lagarta. Em seguida, convidaram a Nova Orquestra para compor o palco — e eles ficaram até o fim do show.
Nas primeiras faixas, o som da orquestra estava um pouco baixo, o que gerou aquele sentimento de “tá quase lá”. Mais tarde, a mixagem foi ajustada e as cordas e metais vieram à tona. A combinação ficou excelente! A dramaticidade da orquestra casou perfeitamente com a atmosfera cheia de contrastes que a banda desenvolve: às vezes lúdica, às vezes concreta; às vezes densa, às vezes leve; algumas vezes melancólica, outras tantas bem alegres e divertidas. Tudo com arranjos de muito bom gosto.
O papel das guitarras no som do Supercombo
Agora vamos falar de guitarra! Leo Ramos estava usando uma Aslan, modelo A S L A N S H A R K (pelo menos é assim que está escrito no Instagram da marca). De efeitos, não consegui visualizar, mas, pela ausência de amps no palco, com certeza deve ser alguma dessas pedaleiras modernas (fiquei sabendo que ele costumava usar uma Helix).

O timbre dele estava excelente e bem na medida. Ele variou entre low gains vintages até high gains gordos e cheios, tudo escolhido com base nos arranjos. Aliás, essa é uma das coisas que mais gosto no trabalho do Leo Ramos: ele consegue usar elementos modernos e refinados em suas linhas de guitarra, mas sempre a serviço da composição — nunca o contrário. Isso é de uma maturidade que muitos virtuosos ainda não alcançaram.
Um hit arrebatador e um futuro brilhante a caminho
Com aproximadamente 1h45 de show, o Supercombo encerrou a noite tocando Piloto Automático, seu maior hit (e grande responsável por diversas legendas em fotos no Instagram). Saíram ovacionados pelo público, que, de quebra, ainda ficou sabendo em primeira mão das datas de lançamento do próximo single e álbum.
Para mim, o “Super Trunfo” do Supercombo é a capacidade de transformar elementos modernos, complexos, refinados — e até pesados (do ponto de vista guitarrístico) — em uma música pop e acessível. Tenho certeza de que uma grande parcela dos ouvintes deles nem imagina que o Leo usa afinações baixas e alternativas, riffs nos breakdowns dignos de qualquer banda de metal moderno e harmonias que fogem da prisão tonal diatônica.
Eu saí do show feliz. O público saiu do show feliz. A violinista que cantava todas as músicas do repertório – e que com certeza é muito fã da banda – saiu feliz demais. É ótimo presenciar o show de uma banda de rock madura e bem produzida. Deu aquela sensação boa de que o gênero ainda é um espaço para continuidade, renovação e experimentação. E o melhor: saber que quem fala que o rock morreu… não faz ideia da bobagem que está dizendo!
As fotos acima são da fotógrafa Marcela Sanches e estão publicadas no Facebook oficial da banda Supercombo.