Criada no Pará durante a década de 1970, a guitarrada é um gênero musical concebido a partir da fusão de estilos como carimbó, merengue e mambo. Também conhecido como lambada instrumental, o estilo tem a forte presença da guitarra elétrica como uma de suas principais características.
Desde sua invenção com o disco “Lambadas das Quebradas” (1978), de Mestre Vieira, até os dias de hoje, a guitarrada compõe um traço marcante da cultura do Pará. Vale destacar, ainda, que o gênero já influenciou nomes famosos do instrumento, como o guitarrista Ximbinha, da antiga banda Calypso.
Como tocar?
O saudoso Mestre Vieira, criador da guitarrada falecido em 2018, mostrou-se um verdadeiro virtuoso na guitarra desde cedo. Dessa forma, acabou concebendo um estilo próprio de se tocar o instrumento.
O ritmo criado por Mestre Vieira apresenta uma guitarra com batida percussiva, além de solos influenciados pelo choro e carimbó.
A principal característica é a levada com semicolcheias – ou seja, quatro notas nas cordas a cada tempo.
O “guitarreiro”, como é chamado o guitarrista do estilo, precisa trabalhar muito a palhetada de forma relaxada. O gênero serve como um legítimo exercício para “soltar” a mão direita.
Ximbinha e a guitarrada
Mais conhecido por ser o fundador e guitarrista da banda paraense Calypso, Ximbinha, que antes assinava como Chimbinha, foi muito influenciado por Mestre Vieira, Aldo Sena e os demais expoentes da guitarrada clássica dos anos setenta.
Inclusive, o primeiro álbum do Ximbinha, antes da fundação do Calypso, foi um disco de guitarrada. Lançado em 1998, o trabalho ‘Guitarras que Cantam’ foi produzido de forma independente e acabou sendo um dos responsáveis pelo ressurgimento do estilo no Pará.
No Calypso, o músico continuou compondo músicas com influências da guitarrada. Ganhou reconhecimento não só no Pará, como em todo o Brasil e até fora do país.
Em 2007, ele foi apontado pelo Instituto Datafolha, ao lado de sua esposa e cantora Joelma, como artista mais popular do Brasil. Além disso, o Calypso concorreu três vezes ao Grammy Latino e gravou um DVD em Angola, levando os ritmos brasileiros para o mundo.
Nos dias de hoje
Antes restrito às regiões Norte e Nordeste, o fenômeno da guitarrada está cada vez mais espalhado na cultura brasileira.
Em entrevista ao portal Tenho Mais Discos Que Amigos, o guitarrista Lorran Valle, da banda de guitarrada curitibana Farofa Tropikal, explicou como é a cena hoje em dia.
“Até o início dos anos 2000, ninguém falava muito sobre a guitarrada. Em 2003, alguns mestres do passado como Aldo Sena e Curica resolveram criar o grupo Mestres da Guitarrada. Aí, todo mundo passou a dar mais atenção. Hoje em dia, está mais espalhada pelo Brasil”, diz.
Outros nomes contemporâneos do estilo são os guitarristas Lucas Estrela e Rosivaldo Cordeiro. A força do ritmo é tanta que, recentemente, o músico Félix Robatto lançou o disco ‘Guitarrada para Bebês’ – o que pode ajudar a garantir que a guitarrada siga viva por muitos anos.
Texto por Gustavo Maiato
Edição por Igor Miranda