Quando você compra um violão novo, um dilema entra em cena: basta abrir a capa, afinar e tocar — ou há algum “ritual” para amaciar o instrumento? O músico Jason Isbell tem uma resposta nada convencional — e mostrou que há pelo menos algumas alternativas respeitáveis no mundo dos violonistas.
Em entrevista ao Music Radar, ele revelou sua técnica nada ortodoxa: colocar o instrumento em frente a caixas de som e deixá-lo “ouvir” hip-hop em volume alto por cerca de 40 horas. O método, segundo ele, ajuda a madeira a vibrar, “soltar” e ganhar personalidade sonora mais cedo.
A prática consiste basicamente em transformar o violão em uma espécie de receptor passivo de música intensa. “Coloque-o diante de um bom par de caixas de som estéreo, aumente o volume e deixe vibrar enquanto você está fora de casa”, costuma dizer Isbell. Para cumprir o ritual, ele usa OutKast — e não por acaso: músicas com graves bem definidos tendem a gerar vibrações capazes de movimentar tampo, laterais e fundo do instrumento.
O curioso é que, apesar do caráter excêntrico, a ideia de expor violões a vibração não é nova. Muitos luthiers falam há décadas sobre como madeira recém-montada precisa de movimento constante para alcançar ressonância plena. O que Isbell faz é apenas levar isso ao extremo — e com trilha sonora própria.
A técnica de Isbell realmente funciona?
Mas outros músicos seguem caminhos bem diferentes. Em fóruns especializados, guitarristas experientes defendem que a melhor forma de “amaciar” qualquer violão é simplesmente tocar muito.
A lógica é que a vibração natural das cordas, repetida por horas ao longo de semanas, faz o tampo se ajustar gradualmente e cria um padrão de resposta mais estável. Muitos recomendam começar com acordes abertos, variações rítmicas amplas e longas sessões de dedilhado para estimular toda a caixa acústica.
Outro ponto frequente entre profissionais: antes de qualquer ritual, o instrumento precisa estar bem regulado. Ação, altura de cordas, nut, trastes e entonação influenciam diretamente na forma como o violão responde às vibrações. Sem um setup adequado, dizem eles, qualquer tentativa de “amaciar” vira perda de tempo.
Há também quem prefira técnicas mais discretas, como tocar escalas repetidamente em regiões específicas do braço — algo comum entre violonistas de aço e nylon que buscam “assentar” certas frequências. Outros utilizam dispositivos de vibração mecânica, conhecidos como tone enhancers, que simulam horas de execução contínua.
No fim, a dica de Isbell funciona mais como provocação do que como regra universal. Ela reacende a discussão sobre como guitarristas podem acelerar a maturação acústica de seus instrumentos — seja com hip-hop alto, seja com dedicação diária.
Seja qual for o método, o importante é claro: violões novos precisam de movimento, contexto e tempo até encontrarem sua verdadeira voz. E, para muitos músicos, essa é justamente a parte mais divertida do processo.




