“Como escolher um violão?” — eis a pergunta feita por 11 em cada 10 pessoas que querem começar a tocar ou já estão em busca de um instrumento melhor. Afinal, esse dilema faz parte das dores e prazeres que pavimentam a vida de qualquer músico. Mas a resposta para essa clássica dúvida não vem pronta: ela se constrói a partir de uma série de informações.
Para jogar luz sobre o tema, a equipe Guitarload foi atrás de quem realmente entende do assunto. Conversamos com o luthier Juan Pomatti, CEO da Pomatti Guitars, de Balneário Camboriú (SC), e responsável por revisar os violões da Hertom antes de eles chegarem às lojas. A Hertom, inclusive, adota esse processo rigoroso de revisão para garantir que cada instrumento chegue ao músico com margem zero de defeitos, seja de fábrica ou técnicos.
Durante uma conversa aprofundada, Pomatti compartilhou dicas preciosas — e definitivas — para quem está escolhendo um violão. Para facilitar, dividimos a entrevista em quatro partes:
- Aspectos gerais
- Madeiras, braço, escala e outros detalhes construtivos;
- Parte eletrônica e seus segredos;
- Lutheria.
Prepare-se: este verdadeiro dossiê é tudo o que você precisava para acertar na escolha do seu violão.
Aspectos gerais
Nesta primeira bateria de perguntas, você convere os primeiros passos para escolher um violão com orientações técnicas do luthier Juan Pomatti.
Do ponto de vista técnico, quais os principais fatores que devemos considerar antes de comprar um violão?
Muitas vezes, o principal quesito passa a ser o estético, porém, músicos com maior experiência analisam outros fatores para aquisição de um violão além dos atributos estéticos: os principais fatores são shape de braço, tamanho e raio da escala, modelo (tamanho e formato do corpo) e madeiras usadas no violão.

Quais os principais fatores garantem um melhor conforto do violão para diferentes tipos de músicos?
Primeiramente, o músico deve “vestir” o instrumento. Aquela impressão de conforto ao tocar vem de fatores nas dimensões de um violão. Relacionados ao braço, estão a espessura, formato do shape, largura do nut, medida do raio da escala e o tamanho dos trastes. O formato do corpo, também é um fator importante nessa impressão que temos de conforto ao tocar um violão.
Para deixar isso mais claro: há braços de violões mais estreitos e largos, que afetam a distância entre as cordas – o que chamamos espaçamento. Pessoas com mãos grandes podem preferir violões com um espaçamento maior, de modo que violões com espaçamento mais estreito podem ser muito incômodos para estes indivíduos. Por outro lado, um músico de mãos pequenas e/ou que tenha guitarra como seu primeiro instrumento talvez se adapte melhor em larguras menores no nut (pestana) do violão.

Ainda falando sobre pestana: muito se fala sobre a altura das cordas e da necessidade de se ajustar o tensor além da altura do cavalete para que um violão ou guitarra estejam confortáveis.

Mas um ajuste de altura da corda no nut também é fundamental para se obter o máximo de conforto ao tocar, além de minimizar problemas de desafinação e entonação do instrumento.

Para quem deseja um instrumento versátil, quais especificações ou configurações devem ser analisadas na hora de escolher o violão?
Penso que a escolha tem que casar com o estilo musical, talvez o modelo do violão seja o principal fator, somado a parte elétrica/eletrônica.
Falar em versatilidade engloba não somente aspectos objetivos, mas gosto pessoal. E para não ser vago em minha resposta, diria que um violão versátil é aquele que atende satisfatoriamente à maioria das necessidades de um músico.
Exemplificando: há violões que soam bem acusticamente mas cuja eletrônica é fraca, com um som amplificado ruim. E há violões com o resultado oposto, ótima captação mas um som acústico limitado. Há instrumentos que soam grandes e dinâmicos quando tocados com palheta, mas que soam pequenos quando dedilhados, e há violões que não falam muito alto (em termos de volume) mas que são ótimos para dedilhar e tem muita separação entre notas. E, como quase tudo, há o meio-termo entre eles.
Dentro disso, é importante avaliar o volume e a qualidade de som do violão, o quão dinâmico e responsivo ele é, se o braço é confortável, se a eletrônica do violão (captador + preamplificador) entrega um som satisfatório no sistema de som, e como cada um desses aspectos potencializam o estilo ou pegada de cada músico. Pode parecer complicado, contudo fica mais simples quando o músico vai à loja testar diversos violões. Todos esses elementos farão sentido no momento em que o músico encontrar um instrumento que lhe proporcione maior conforto ao tocar, com um timbre que lhe agrade.
Parece-me que guitarristas comumente têm várias guitarras enquanto violonistas, em sua maioria, tem somente um violão. Faz sentido? Essa questão da versatilidade é mais relevante na compra de um violão?
É uma provocação interessante. De fato, é comum encontrarmos hobistas sérios que possuem várias boas guitarras em seus acervos. Creio que façam isso não necessariamente por consumismo: guitarras diferentes podem ter personalidades tão distintas que acabam funcionando tal qual diferentes pincéis na mão de um pintor, e o guitarrista se torna dependente de todas essas ferramentas, usando-as conforme o contexto artístico.
Já quando falamos em violão, essa necessidade por versatilidade fica mais evidente e muitos músicos contentam-se com um único violão que faça tudo bem. Não é comum vermos, por exemplo, um músico que tenha um violão para tocar forte de palheta e outro para dedilhar. Ou ter um violão para dar um som mais aveludado e outro com um timbre mais agressivo para “cortar” a mix. E isso é corroborado quando pensamos no custo de um bom instrumento.
Por outro lado, alguns violonistas precisam ter essas diferentes cores à sua disposição, usando a mesma ilustração de antes. E está tudo bem. Sendo assim, a necessidade e gostos de cada músico vão dizer o quão versátil um instrumento pode ser.
Madeiras, braço, escala e outros detalhes construtivos
Nesta etapa do dossiê sobre como escolher um violão, Pomatti entra em detalhes que despertam dúvidas em muita gente. Com toda propriedade que lhe é cara, no entanto, o luthier destrincha questões que para muitos são pesadelos.
Como a madeira influencia o timbre do violão?
A escolha da madeira, para compor um violão e extrair o melhor resultado sonoro e estrutural, passa pela espécie, percentual de umidade, densidade e também pelo corte (desdobramento da tora). Esses fatores entregam o som final de um instrumento musical.
A soma dessas características pode fazer um violão soar mais grave ou mais agudo, mais dinâmico ou mais comprimido, mais velado ou rico em harmônicos, fora os atributos mecânicos que trazem estabilidade de afinação e durabilidade.
Você hoje também trabalha inspecionando os violões Hertom, cujo projeto emprega madeiras consagradas como spruce, ovangkol (também conhecido como jacarandá africano), mogno, pau ferro e ébano. Comente um pouco sobre a influência de cada uma delas no som do violão?
Talvez essa pergunta seria melhor respondida pelo João Cassias, que desenhou todos os modelos lançados. Mas fico confortável em dizer que a rigorosa escolha e seleção de madeiras para os violões Hertom foi idealizada para compor um instrumento premium.
Em linhas gerais, o que eu posso afirmar é que violões com laterais e fundo em Ovangkol costumam ter uma maior proeminência nas frequências graves e no brilho, enquanto os modelos com lateral e fundo de mogno acentuam frequências médias, o que é geralmente apreciado no fingerstyle. Já o Walnut, da forma como foi utilizado no projeto do J45 STD, traz um som mais sóbrio, meio aveludado, com um voicing bem particular.
No site da Hertom há descritivos que explicam as virtudes de cada modelo e, no canal do YT da marca há vários vídeos demonstrativos que, juntamente com o site, podem ajudar a evidenciar tais diferenças entre as madeiras.
Qual a diferença entre madeiras maciças e laminadas? Como isso afeta o timbre e a durabilidade do instrumento?
A Hertom utiliza madeiras maciças no tampo e fundo, porém as laterais tem um processo especial de laminação, o que confere maior projeção sonora, e estabilidade estrutural para caixa de ressonância.
Madeiras sólidas proporcionam maior riqueza e complexidade sonora, só que podem ser sensíveis a variações de temperatura e de umidade, principalmente nas laterais do violão. Não é incomum, por exemplo, ver trincas e rachaduras em laterais de violões sólidos que não foram adequadamente guardados.
Já bons violões laminados (e não são todos) têm resistência a esses fatores climáticos e podem melhorar a projeção sonora do instrumento; contudo, sacrificam qualidade tonal.
A Hertom trabalhou isso de uma forma bem inovadora. A sacada do Cassias foi desenhar modelos usando tampos e fundos maciços, e propor um sistema onde a lateral é formada por 3 camadas de uma mesma madeira. Dessa forma, a lateral comporta-se como uma madeira sólida, com maior resistência e com um incremento de volume substancial.
Falando um pouquinho sobre shape (formato) de violão, quais são os principais e como eles diferem em termos de ergonomia e sonoridade?
R: Referente ao braço, existem os formatos do shape, C, D, V e U – tais letras representam o desenho do braço do instrumento. Além desse formato, o braço em si pode ser mais cheio/largo, ou mais fino em sua espessura. O shape C é o mais comum hoje em dia, mas não necessariamente é melhor ou pior. É uma mera questão de gosto.

No tocante ao corpo, o formato corresponde ao modelo. Alguns são maiores e outros menores, e o volume do corpo do violão mais a forma como a estrutura interna do instrumento é projetada interferem completamente na sonoridade do instrumento.
A ergonomia, relacionada ao modelo do violão, acaba sendo uma impressão pessoal: há alguns músicos os quais preferem ter um instrumento mais compacto, enquanto outros priorizam a sonoridade, não dando tanta importância ao formato do modelo.
Para quem busca um som mais equilibrado, qual shape é mais indicado?
Não há uma resposta para isso. Mesmo que a pergunta fosse “qual a combinação de madeira proporciona um timbre mais equilibrado?”, o que eu considero mais equilibrado pode não ser o que o Cassias, ou o Ivan Freitas (projetista das guitarras Hertom) ou qualquer um dos leitores tenham como referência.
Também é importante dizer que, no final das contas, é o projeto que dita qual será o timbre do instrumento. É a soma de todos os fatores que faz o som. A título de ilustração: um Hertom Dread DLX e um OM DLX são feitos com as mesmas madeiras mas soam completamente diferentes. Da mesma forma, um Dread DLX e um Dread STD também tem timbres totalmente distintos, mesmo tendo as mesmas dimensões.
O que talvez possa ser dito — e não quero ser absolutamente categórico nesta afirmação — é que modelos de caixa maior geralmente são mais dinâmicos, volumosos e, como tal, rendem mais quando tocados com mais força; já modelos de caixa acústica menor não costumam ser tão dinâmicos ou entregam a mesma quantidade de volume que se vê num bom violão Dread ou Jumbo, só que (em geral) apresentam bastante clareza e separação entre notas.
O formato do corpo influencia no conforto ao tocar sentado ou em pé? Qual seria a melhor escolha para cada situação?
As dimensões do instrumento influenciam diretamente nesse quesito, tanto para a mão que digita quanto para mão e braço que atacam as cordas. A escolha é pessoal, por esse motivo a importância de se testar vários instrumentos, de modelos diferentes e com dimensões de braços distintos entre si.
Existem shapes de violão indicados para determinados estilos musicais como, por exemplo, MPB, Samba, Pop, Rock, Sertanejo, entre outros? Que tal contar para o público da Guitarload quais são os mais adequados para cada estilo?
Tradicionalmente nós associamos MPB, Samba e Bossa Nova ao violão de nylon, assim como normalmente vinculamos o violão de aço ao Pop, Rock e Sertanejo, muito em virtude da influência americana. Dito isso, nada impede que essa ordem seja subvertida! (risos)
Como identificar se o braço do violão está torto ou com problemas estruturais antes da compra?
Isso é uma tarefa difícil para um músico não experiente. Poderia até dar detalhes mas precisaria de algumas horas para trazer clareza. Contudo vamos desenvolver um pouco o assunto.
Uma situação: cordas de aço 010, quando afinadas, aplicam uma força de aproximadamente 40Kg entre as pontas do instrumento. Cordas 012 podem passar de 70Kg de tração! Se o instrumento não for suficientemente robusto, essa força pode deformar tanto o corpo quanto o braço. É muito peso sendo aplicado no instrumento, sem descanso. Essas forças podem torcer o braço, tipo como quando se torce uma roupa. E aí o violão ou guitarra ficarão completamente desnivelados.
Abaixo, você confere uma tabela com o peso das cordas que vão nos violões Hertom, que no caso é o encordoamento D’Addario XS Phosphor Bronze Custom Light Coated Acoustic Guitar Strings 11-52:

Um outro problema que pode acontecer são braços que, seja por erro de fabricação ou por usar madeiras sem o tratamento devido, empenam quando expostos a essas forças além de aspectos ambientais (como temperatura e umidade). Com isso, um instrumento de fabricação ruim terá a escala do braço mais parecida com uma pista cheia de quebra-molas do que um asfalto retinho.
Minha dica: o ideal é que você adquira seu instrumento de uma loja de confiança, podendo levar seu novo violão, guitarra ou baixo para uma avaliação de um técnico de confiança; desta forma, se o instrumento estiver comprometido, você usa a garantia para substituir o instrumento. Também para ajudar, estou subindo um vídeo aqui na Guitarload onde ensinarei um método para se identificar empenos e torções.
Existe uma quantidade ideal de trastes para diferentes estilos musicais ou é apenas uma questão de preferência?
Somente preferência. Por exemplo, um músico que quer tocar músicas do Steve Vai certamente precisará de uma guitarra com 24 trastes, ou mais! (risos).
Como a espessura e o perfil do braço do violão influenciam no conforto ao tocar?
Largura, espessura, formato do shape e raio da escala, além do tamanho da escala, implicam diretamente na impressão de conforto ao tocar. Mesmo que se faça um ajuste específico para o músico, esses fatores são essenciais e devem ser levados em consideração no momento da escolha do instrumento. E são fatores pessoais pois para alguns músicos o melhor shape é o formato C, para outros o formato U, alguns preferem raio de escala mais “aberto” outros mais “fechado”, outros preferem tamanho de escala menor, outros escala maior, ou um braço mais fininho ou gordinho, e assim por diante.
Para isso, nada melhor que ir à sua loja de preferência e testar o máximo de instrumentos possíveis. Certamente você encontrará o seu braço preferido.
O comprimento da escala (scale lenght) afeta a dureza das cordas e a tocabilidade? Como escolher a medida ideal?
Sim, um instrumento com escala menor deixa as cordas mais “frouxas” o que, dependendo da espessura de cordas, trará maior conforto do que se compararmos a mesma espessura de cordas em um instrumento com uma escala mais comprida – por exemplo, uma Les Paul de 24.75” versus uma Strato de 25.5”.
Dependendo da afinação que o músico usa, há de se equacionar espessura de cordas com tamanho de escala, tanto para uma melhor tocabilidade, quanto para uma melhor entonação. Há ferramentas como a Tension Stringjoy que podem ser úteis para quem está à procura da sua tensão ideal de cordas.

Outro aspecto a se levar em conta é que instrumentos de escala mais curta podem auxiliar na formação de acordes que requeiram uma abertura maior dos dedos.
Parte eletrônica e seus segredos
Se pretende transitar fora do campo acústico, esta sessão de perguntas e respostas é indispensável. Confira informações preciosas sobre como fazer seu violão “falar bem”.
Quais são os principais tipos de captação para violão? Como esses tipos afetam o som amplificado?
Os mais habituais são: o captador piezo de rastilho, captador magnético na boca do violão e o microfone instalado internamente ou na frente da boca do violão. Cada um deles têm uma região harmônica de captura e suas peculiaridades sonoras, independentemente de marca ou modelo.
Como testar um violão eletroacústico antes da compra para garantir que a captação atende às necessidades do músico?
Pra quem já tem seu amplificador ou PA, o ideal seria plugar o instrumento no seu próprio equipamento e avaliar o resultado final – sempre é melhor testar usando a sua cadeia de sinal, com os equipamentos nos quais você está habituado. Se isso não for possível, tente conhecer o sistema de pré-amplificador instalado no violão que pretendes adquirir; pesquisar reviews e ler o manual do fabricante pode ajudar nessa procura por referências.
Por falar em captação, quais os sistemas utilizados nos violões Hertom e quais são as características dos sons que eles entregam?
A Hertom utiliza Fishman Matrix Infinity, que oferece uma excelente resposta a dinâmica do músico, com tons nítidos e sendo responsivo às características de cada modelo, e sem ser invasivo ao corpo do instrumento – ou seja, não foi preciso furar a lateral do violão.
Lutheria
Por fim, mas não menos importante, a questão da lutheria. Afinal, nem todas as fabricantes adotam o rigoroso controle de qualidade da Hertom – que revisa 100% os instrumentos que fabrica antes de envia-los para as lojas. Sendo assim, confira os ritos que envolvem a atuação do luthier no nosso pós-compra de violão.
O setup de fábrica é adequado ou ajustes são sempre necessários? O que costuma precisar de regulagem?
Raramente um instrumento sairá de fábrica com um ajuste completo. E ainda que saia com alguma regulagem, pode ser que fatores externos interfiram negativamente na performance do violão, guitarra ou contrabaixo.
Supondo que a regulagem de fábrica tenha sido preservada, ou que a própria loja ofereça um serviço de ajuste básico, isso não elimina a necessidade de um ajuste particular. É comum que músicos levem seus instrumentos para técnicos de confiança, que farão o chamado “setup”: um ajuste fino do instrumento, deixando-o o mais confortável possível.
Cabe dizer que a Hertom, além do seu rigoroso controle e alto padrão de qualidade, ainda faz esse pré-ajuste, garantindo ao lojista e músico um instrumento mais adequado para exposição e testes.
Qual a importância do luthier na manutenção e personalização de um instrumento ao longo do tempo?
Qualquer instrumento de cordas precisa de revisão e ajustes periódicos. O ideal é que isso seja feito a cada 6 meses — principalmente em regiões com muita diferença climática ao longo das estações do ano — e o luthier/guitartech é o profissional responsável por isso. Um profissional de confiança poderá cuidar de questões básicas como limpeza e manutenção de componentes elétricos, ajustes na tocabilidade (por exemplo, quando há alteração no calibre de cordas) ou mesmo antecipando problemas que possam afetar a integridade do violão ou guitarra.
Já a parte de personalização pode ser uma pintura nova, um art relic, uma incrustação de marcadores de escala, uma troca de captador, etc. A customização acontece de acordo com a preferência e desejos do cliente.
Importante dizer que muitas vezes essa solicitação de customização pode afetar a construção da guitarra: por exemplo, um cliente pode solicitar que o braço do seu violão fique mais fino, ou que se faça recortes no corpo da guitarra para melhorar ergonomia. Um bom luthier pode orientar o músico, indicando se um instrumento específico pode passar por essas modificações sem prejuízo e se o proprietário do instrumento está pronto para essa mudança.
Para exemplificar: imaginemos que um guitarrista peça para um luthier afinar o braço de uma guitarra porque esse cliente gosta da guitarra que tem, mas acha a pegada do braço desconfortável. Se o cliente não souber exatamente o que quer, e/ou se o luthier não souber conduzir o cliente nesse processo, haverá chances do cliente não gostar do novo formato e, dado que houve desbaste de material, não há como voltar esse braço ao que era antes. Por outro lado, um luthier que consegue entender o que o cliente quer e precisa, é capaz de fazer uma baita transformação positiva neste violão, guitarra ou baixo.
Que outros conselhos você daria para um cliente que irá comprar seu primeiro violão numa loja?
Essa é uma decisão muito difícil para quem não tem experiência. O ideal é ter alguém mais experiente com essa pessoa, talvez um professor ou amigo que toque há muito mais tempo. Além disso, o instrumento precisa te inspirar: sendo assim, não é errado procurar por formatos, cores ou estilos que tragam mais afinidade. Possivelmente o gosto e preferências dessa pessoa mudarão ao longo do tempo, esse violão será substituído em alguns anos e está tudo bem – isso faz parte do processo.
Por fim, quais dicas você oferece para prepararmos o violão antes de enviá-lo para luthiers que estão em cidades diferentes da nossa? Ou mesmo em viagens?
Como falamos, guitarras, violões, baixos e instrumentos de madeira em geral estão suscetíveis a desajustes devido a fatores como umidade e temperatura. Há complicações em se enviar um instrumento para locais onde haja uma diferença no clima (principalmente com uma ação média ou baixa de cordas), dado que madeiras mais sensíveis podem alterar o setup do instrumento. Algumas sugestões de cuidado:
- transporte o instrumento afinado – se você retira a tração das cordas, o tensor continuará forçando o braço do instrumento para trás, sem que haja a força inversa das cordas “equilibrando” o braço;
- se carregado com case, tire todas as folgas do case para o violão ficar bem justinho – pode usar uma flanelinha, toalha ou mesmo papel amassado;
- caso despache o instrumento numa mudança ou envio por transportadora: coloque seu case ou bag dentro de uma caixa e estufe-a a caixa com isopor ou papel amassado para que o instrumento fique firme e protegido de impactos;
- se for para um lugar muito úmido, colocar um saquinho de sílica gel no case;
- se for para um local muito seco, colocar um umidificador próprio para violões no case.

Se você chegou até aqui, certamente já sabe como escolher um violão que vai entregar tudo o que você planeja para seu som. Boa sorte com as suas escolhas!