Em maio de 2025, a música brasileira perdeu um de seus pilares mais sofisticados e criativos, mas o legado de Helio Delmiro é perpétuo. Ele não era apenas um guitarrista — era um artesão sonoro, capaz de transformar cada nota em uma narrativa emocional. Com técnica apurada e profundo conhecimento harmônico, elevou a guitarra e o violão ao protagonismo dentro de estilos como jazz, choro, bossa nova e MPB, conquistando respeito internacional e inspirando gerações de músicos.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1947, Delmiro começou cedo sua trajetória. Aos 14 anos já se apresentava em bailes cariocas, integrando grupos como o Fórmula 7. Nesse ambiente, absorveu o samba, o choro e o jazz, fundindo a técnica clássica do violão com a improvisação jazzística. Não demorou para que seu talento chamasse a atenção de gigantes como Elis Regina, Ella Fitzgerald, Milton Nascimento, Tom Jobim e Ivan Lins.

Discos que moldaram sua história
Apesar de ter poucos trabalhos solo, cada álbum de Helio Delmiro é um capítulo fundamental na música instrumental brasileira.
- Emotiva (1980) apresentou valsas, sambas e choros com harmonia refinada e improviso elegante, destacando faixas como “Emotiva nº 1”, “Marceneiro Paulo” e “Tarde”;
- Em Samambaia (1981), parceria com César Camargo Mariano, Delmiro entregou um diálogo magistral entre piano e violão, misturando swing, melodia brasileira e rigor estrutural;
- Já Chama (1984) reuniu composições próprias e choros de beleza rara, como “Folha Morta” e “Ad Infinito”, reafirmando sua assinatura musical.
Sua contribuição como músico de estúdio também é lendária. No clássico Elis e Tom (1974), imprimiu sutileza e densidade harmônica ao lado de dois ícones da bossa nova. Em Caçador de Mim (1981), de Milton Nascimento, seu solo no final da faixa-título é lembrado como um dos mais belos da MPB. Também marcou presença em Milton ao Vivo (1979–1983), registrando performances históricas, incluindo o Festival de Montreux.
O legado de Helio Delmiro, um eterno mestre
Helio Delmiro conquistou a admiração de músicos e críticos internacionais. No I Festival de Jazz de São Paulo, em 1978, o guitarrista Larry Coryell afirmou: “Esse cara toca melhor do que eu”. O crítico Leonard Feather chegou a compará-lo a Django Reinhardt e Wes Montgomery, algo raríssimo para um músico brasileiro.
Sua abordagem combinava improvisação sofisticada, harmonia intrincada e pulsação rítmica enraizada no Brasil. Tocando sem palheta, apenas com os dedos, criava arranjos densos e expressivos. O álbum Samambaia segue sendo referência para guitarristas e estudantes, pela perfeita fusão entre composição, interpretação e improviso.
Helio Delmiro não se destacou por exibir velocidade ou pirotecnia técnica, mas por um fraseado elegante, emotivo e inconfundível. Sua música provou que a guitarra pode ser muito mais que acompanhamento — pode ser poesia pura. Hoje, seu legado permanece vivo, inspirando cada músico que busca unir virtuosismo e sensibilidade em um só acorde.



