O guitarrista do Polyphia, Tim Henson, voltou a refletir sobre um dos temas mais polêmicos da história da guitarra: o auge e a queda do shred nos anos 80.
Em entrevista recente ao portal The Music Zoo, o músico analisou como o virtuosismo extremo acabou perdendo sua essência — e revelou por que acredita que o surgimento de Kurt Cobain foi uma resposta natural do universo a esse exagero técnico.
O auge e o colapso do virtuosismo
Nos anos 80, o mundo da guitarra parecia viver uma corrida armamentista. Quanto mais rápido, melhor. Solos longos, técnicas absurdas e palhetadas que beiravam o impossível definiram uma geração de músicos. Nomes como Steve Vai, Joe Satriani e Eddie Van Halen elevaram o nível técnico das seis cordas a um novo patamar.
Mas, como todo excesso, o movimento se esgotou. A busca pelo virtuosismo acabou gerando uma onda de imitadores. Segundo Henson, “quando alguém tenta fazer algo incrível, como Hendrix ou Eddie Van Halen, apenas 1% acerta o alvo. Todo o resto está fracassando”. Para ele, o resultado foi uma diluição completa da ideia original por trás do shredding.
O “equilíbrio” do universo e o surgimento de Cobain
Henson vai além da análise técnica e filosofa sobre o papel do grunge no fim da era dos “destruidores”. Ele acredita que o surgimento de Kurt Cobain e do Nirvana foi uma espécie de reequilíbrio cósmico.
“Sinto que, por volta dos anos 80, todos os shredders se uniram, e quando isso aconteceu, a pressão foi tão grande a favor deles que o universo precisou se equilibrar e trazer Kurt Cobain de volta”, declarou.
De repente, o foco deixou de ser velocidade e passou a ser emoção, simplicidade e autenticidade. O virtuosismo técnico deu lugar a canções mais diretas, honestas e carregadas de atitude — um contraste brutal com a estética dos anos 80.
O papel do Polyphia na nova era da guitarra
Curiosamente, Henson e o Polyphia representam hoje uma nova fase do virtuosismo. A banda combina técnica, groove e estética moderna, misturando metal progressivo, trap e música eletrônica. É o shred revisitado, mas com outra mentalidade.
Ele reconhece que o ciclo é natural: “É preciso que as coisas se diluam e depois sejam reconstruídas. Isso impulsiona a música para frente”, disse.
Enquanto o shred dos anos 80 foi marcado pela competição, o som do Polyphia reflete liberdade criativa e experimentação. Não é sobre quantas notas cabem em um segundo, mas sobre o impacto emocional e estético de cada frase musical.



