O embate entre Bill Finnegan, criador do lendário overdrive Klon Centaur, e a gigante Behringer chegou a um desfecho inesperado. O Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito de Massachusetts rejeitou o processo movido por Finnegan contra a Music Tribe — empresa controladora da Behringer — por suposta “falsificação flagrante” do icônico pedal.
A decisão encerra meses de tensão e especulação na comunidade guitarrística. Desde o lançamento do Behringer Centaur Overdrive, em 2023, pelo preço acessível de US$ 69 (cerca de R$ 380, sem taxas ou impostos), o mundo dos pedais entrou em polvorosa.
Da febre ao sumiço nas prateleiras
Logo após o lançamento, a semelhança visual e sonora com o original Klon Centaur levantou suspeitas. A situação se agravou quando Bill Finnegan entrou com o processo judicial, alegando que os consumidores estavam sendo enganados por um produto falsificado, acreditando que se tratava de uma versão oficial.
O impacto foi imediato: unidades do Behringer Centaur Overdrive começaram a ser revendidas no mercado de segunda mão por valores astronômicos, chegando a US$ 2.000 (aproximadamente R$ 11 mil). O medo de uma descontinuação fez o pedal se tornar item de colecionador em questão de dias.
Behringer muda o nome — duas vezes
Diante da pressão, a Behringer reagiu rapidamente. Primeiro, alterou o nome do pedal para Centara, adicionou o logotipo da marca na parte frontal e redesenhou o gráfico do centauro. A mudança parecia suficiente para contornar as acusações — mas, discretamente, o nome mudou novamente, desta vez para Zentara.
O novo modelo manteve a proposta de reproduzir o timbre do Klon, mas buscou uma identidade visual mais distante do original, tentando equilibrar o respeito à inspiração e a autonomia de marca.
O desfecho silencioso do processo
O documento oficial da corte norte-americana, disponível no site CourtListener, confirmou a rejeição do processo, sem custos ou penalidades para nenhuma das partes. Nenhum detalhe adicional foi divulgado, mas especialistas especulam que um acordo extrajudicial pode ter encerrado a disputa.
Esse tipo de resolução é comum em casos onde há conflito sobre uso de marca e identidade visual, especialmente em produtos que já contam com forte apelo histórico e emocional no mercado.
A polêmica dos clones de pedais
Clones de pedais de guitarra são uma realidade antiga — e controversa. Como a maioria dos circuitos eletrônicos não pode ser patenteada, os fabricantes dependem da proteção de marca registrada, focada em aspectos visuais e de identidade.
No caso de Finnegan, sua queixa se baseava justamente na confusão gerada entre consumidores, que teriam acreditado estar comprando um produto oficial ou licenciado.
Por outro lado, a Behringer — conhecida por oferecer versões acessíveis de equipamentos clássicos — tem um histórico de replicar timbres lendários sem necessariamente infringir patentes, o que mantém a discussão viva entre músicos, juristas e fabricantes.
O peso das marcas no mundo das guitarras
O episódio reacende o debate sobre o valor das marcas no universo musical. Nos Estados Unidos, empresas precisam fazer valer seus registros de marca para garantir proteção futura. Ignorar cópias pode enfraquecer o direito sobre o design — como aconteceu no famoso caso entre Gibson e Dean Guitars.
Naquela ocasião, a Gibson venceu, mas foi criticada por ter demorado demais para agir. Recentemente, a indenização da fabricante foi aumentada de US$ 1 para mais de US$ 168 mil (cerca de R$ 940 mil).
O legado continua
Independentemente do veredito, a disputa entre Finnegan e a Behringer reforça a paixão dos guitarristas pelo Klon Centaur, um dos pedais mais míticos da história. Enquanto o original segue custando até US$ 5.000 (mais de R$ 28 mil) no mercado de colecionadores, o Zentara se consolida como a opção acessível que promete entregar parte da magia — agora, sem o peso de um processo nas costas.


