Joe Bonamassa
Different Shades of Blue
O blues está sempre na boca e na bagagem dos grandes astros do pop e do mainstream. A lista de artistas que trilharam percursos de sucesso com base em suas encruzilhadas é farta. Inclui gente como Joe Bonamassa, que forja uma sonoridade ampla e, ao mesmo tempo, única por meio dos principais clichês do gênero. Ou seja, apesar de usar tudo aquilo que todo mundo já utilizou, demonstra personalidade própria, além de versatilidade suficiente para trafegar pelas praias mais diferentes do som negro. Assim é Different Shades of Blue, trabalho que reflete a ascensão técnica e a maturidade do cara.
Pretensioso, Bonamassa abre o CD com uma versão instrumental de “Hey Baby (New Rising Sun)”, de Jimi Hendrix, tarefa que não é para qualquer um. Mexer em clássicos, afinal, pode despertar a fúria dos fãs e da crítica especializada. O sujeito, no entanto, obtém um resultado estrondoso. A roupagem pesada para a música cria expectativa, clima perfeito para a próxima faixa, um dos destaques da obra: “Oh Beautiful!”, um hard rock que lembra Led Zeppelin. A boa melodia evidencia a voz poderosa do guitarrista. Que ora mostra uma verve roqueira, ora expõe a faceta de um artista mais comercial, ora acentua um quê rhythm and blues, seara em que se pode inserir “Love Ain’t A Love Song”. A canção possui balanço irresistível, refrão grudento e naipe de metais condimentado, elementos capazes de fazer o ouvinte mais acanhado sacolejar-se inteiro.
Num ritmo mais contido, embora com uma levada de bateria desconcertante, “Trouble Town” é outra que se desenrola numa pegada R&B. Já os tão comentados traços “bluesísticos” estão distribuídos ao longo de todo o álbum, apesar de aparecerem mais explicitamente em “Living On The Moon”, composição no melhor e mais vibrante estilo Stevie Ray Vaughan; “I Gave Up Everything For You, ‘Cept The Blues”, música com atmosfera Buddy Guy; “So, What Would I Do”, a baladona que encerra o disco; e “Heartache Follows Wherever I Go”, que remete a Gary Moore. As referências ao irlandês e a Jimmy Page também são percebidas no hard rock romântico “Never Give All Your Heart”: Bonamassa acerta a mão num solo melodioso e nos fraseados que complementam o vocal. O repertório ainda tem a boa faixa que batiza o trabalho, que até poderia tocar no rádio em razão da elegância e da sutileza; e “Get Back My Tomorrow”, embalada por um riff meio country numa onda Deep Purple com Steve Morse.
O CD nem bem acabou de ser lançado e, sem exagero, já pode ser considerado a obra-prima de Bonamassa, sujeito que arrancou elogios até do mestre B.B King, o que, convenhamos, é bem fácil de entender.
CARLOS MESQUITA