A lista da revista Rolling Stone com os 250 maiores guitarristas de todos os tempos ainda está gerando polêmica. O principal motivo é a ausência de nomes fundamentais, como George Benson, Allan Holdsworth, Yngwie Malmsteen, entre outros.
Entretanto, há algumas surpresas positivas. Dentre elas, destaque para a brasileira Rosinha de Valença, que é pouco conhecida do grande público, mas que deixou um belo legado.
Por isso, a Guitarload traz nessa matéria um resumo sobre quem foi essa violonista, que ficou na posição de número 162 na lista da revista norte-americana.
Quem foi Rosinha de Valença?
Rosinha de Valença, cujo nome de batismo era Maria Rosa Canelas, nasceu em Valença, Rio de Janeiro, em 30 de julho de 1941. Ela começou a tocar violão ainda na infância, influenciada por seu irmão, e se aperfeiçoou no instrumento de forma autodidata, tirando de ouvido canções do rádio.
Aos 12 anos, Rosinha já tocava em bares e programas da rádio de sua cidade. Em 1960, ela largou a escola para dedicar-se à carreira de violonista, desagradando inicialmente a família. Três anos mais tarde, ela se mudou para o Rio de Janeiro, onde adotou o nome artístico Rosinha de Valença.
Foi nessa fase que ela conheceu Baden Powell, que gostou de seu estilo e passou a tocar com ela. Ainda em 1963, saiu o primeiro disco, intitulado Apresentando Rosinha de Valença. Na mesma época, a violonista ainda tocou com grandes nomes da MPB, como Nara Leão e Quarteto em Cy.
Em meados dos anos 1960, Rosinha de Valença vai para os Estados Unidos, onde grava com Sérgio Mendes. Era o início da carreira internacional da violonista, que excursionou de forma intensa nos anos seguintes também pela Europa e Japão.
Volta ao Brasil e parcerias com grandes nomes da música
No início dos anos 1970, Rosinha de Valença volta as atenções para o Brasil, com lançamentos de discos importantes, como o clássico Um Violão em Primeiro Plano, de 1971. O repertório desse álbum é formado basicamente por interpretações de músicas conhecidas, como Summertime, O Samba da Minha Terra e Asa Branca. No mesmo disco, ela gravou uma versão do clássico Concierto de Aranjuez.
Outros álbuns que valem a pena ouvir são Rosinha de Valença Apresenta O Ipanema Beat (1970) e Cheiro de Mato (1976), ambos disponíveis nas plataformas de streaming.
O que chama a atenção na abordagem de Rosinha de Valença ao violão é a soma de elementos, que reúne desde um fraseado melódico e elegante até o uso de oitavas ao estilo Wes Montgomery. Tudo isso, sem deixar de lado as levadas de bossa nova e o requinte da música brasileira.
Rosinha de Valença ainda estabeleceu parcerias com nomes famosos, como Stan Getz, Sarah Vaughan, Martinho da Vila e Sivuca, com quem, inclusive, lançou um disco ao vivo em 1977. Nas décadas seguintes, entretanto, Rosinha não conseguiu dar sequência ao sucesso artístico obtido nos anos anteriores.
Em 1992, Rosinha de Valença teve uma lesão cerebral, em decorrência de uma parada cardíaca, que a deixou em coma por 12 anos. Ela morreu em 2004, na cidade de Valença, no interior do Rio de Janeiro, aos 62 anos de idade.
Por fim, depois de sua morte, Rosinha de Valença foi homenageada com o disco Namorando a Rosa de 2004. Produzido por Maria Bethânia e Miúcha, o álbum tem as participações de Chico Buarque, Caetano Veloso, Yamandu Costa, Hermeto Pascoal, entre outros.
Conclusão
Embora desconhecida de grande parte do público, Rosinha de Valença merece, sim, figurar em uma lista de grandes guitarristas da história. Muito embora, eu concorde que a relação divulgada pela Rolling Stone tenha distorções e ausências imperdoáveis, existem casos que merecem ser destacados de forma positiva.
Só o fato de uma mulher muito jovem deixar o interior do Brasil, no início dos anos 1960, para tentar a vida como violonista já é um ato de coragem. Agora, imagine essa artista ir para os Estados Unidos, obter reconhecimento e excursionar por mais de 20 países.
Além desses feitos, a musicalidade de Rosinha de Valença era espetacular. Ela conseguiu, com maestria, reunir a levada de bossa nova, dedilhados do violão clássico e a sofisticação jazzística.
Quase toda lista de melhores e piores, independente do segmento, é injusta. Especialmente quando estamos falando de arte, pela subjetividade envolvida. Mas, se há algo a ser celebrado nessa lista da Rolling Stone, com os 250 maiores guitarristas de todos os tempos, é a inclusão de Rosinha. Um reconhecimento tardio, mas importantíssimo!
No vídeo abaixo, você confere a performance de Rosinha de Valença em Consolação, no ano de 1966: