O lendário guitarrista Steve Morse revelou que sua batalha contra a artrite está exigindo uma adaptação radical em sua técnica ao vivo. A mudança, segundo ele, está alterando completamente a forma como se apresenta no palco. Durante meses, Morse sentiu o desgaste no punho direito — consequência de décadas praticando “10 000 notas por dia” — até o ponto em que a cartilagem praticamente desapareceu.
Em vez de abandonar os shows, ele decidiu reinventar sua maneira de tocar, modificando o equipamento, ajustando a pegada da palheta e alterando o ângulo do braço para reduzir a dor durante as apresentações. “Os ossos da junta têm diferentes níveis de dor quando mudo o ângulo”, explicou à Guitar World. “Então, fico o tempo todo adaptando a posição durante o show.”
Morse afirmou que o que está em risco não é apenas o conforto, mas a própria capacidade de enfrentar turnês completas. “Quando acordo, será que vou conseguir mover minha mão? Eu não sei”, disse. Ele reconhece que sua fase mais intensa nos palcos pode estar se encerrando:
“Acho que meu tempo de performances ao vivo está acabando. Essa janela está se fechando”.
Mesmo assim, o guitarrista não pensa em parar. Ele vislumbra um futuro dedicado à composição e colaborações, mas admite que já não consegue “tocar no mesmo nível que os músicos atualmente conseguem”.
Adaptação prática e legado em jogo
Para continuar ativo, implementou mudanças práticas: instalou mecanismo que silencia parcialmente as cordas, reduzindo vibrações indesejadas ou sons excessivos quando a mão direita toca em sua clássica Ernie Ball Music Man. Ele também afirma que passou a usar mais o cotovelo do que o punho e começou a alternar com palhetadas em partes críticas. Embora o som “não seja o mesmo”, ele considera a técnica “uma alternativa viável quando o movimento se torna insuportável”.
Mesmo com as limitações, Steve Morse segue em frente. O músico prepara um novo álbum com participações de Eric Johnson e John Petrucci, além de continuar em turnê com a Steve Morse Band.
Ele admite que algumas músicas se tornaram difíceis de executar. Ainda assim, recusa a ideia de depender do engenheiro de som: “O guitarrista precisa criar a dinâmica sozinho”, afirmou. Para Morse, essa autonomia faz parte da maturidade musical. “Entendo que o corpo dita limites, e inovar a técnica é tão importante quanto compor algo novo”, disse.
Sua experiência serve de alerta e inspiração: velocidade e destreza são passageiras, mas o desejo de tocar permanece. “Não importa o quanto doa, eu ainda quero tocar guitarra”, afirmou. Quem o acompanha desde os tempos da Dixie Dregs ou Deep Purple sabe que essa é uma nova fase — menos sobre força e mais sobre sabedoria.





