Jimi Hendrix tocava guitarra com os dentes e enchia os bares mais obscuros de Nova York de um blues inconfundível. Morreu com 27 anos e, desde então, muitos livros zelaram pela história deste músico inimitável que incendiava seus próprios instrumentos e encontrava a si mesmo dentro do poder redentor da música.
Agora uma nova biografia, “Starting At Zero: His Own Story“, revela Hendrix através das próprias palavras do músico, nascido em Seattle em 1942, reunidas pelo autor Peter Neal a partir de material audiovisual, entrevistas e notas. O livro será lançado no dia 29 de outubro (exterior).
O músico abandonou seu lar ainda adolescente para demonstrar ao mundo que a música não é simplesmente questão de técnica, mas de tocar com as entranhas. Sua curta existência se torna ainda mais compreensível com a publicação desta biografia, boa parte por mérito de Neal, que cedeu todo o protagonismo às reflexões do guitarrista.
Em meados dos anos 60, o guitarrista ficou em primeiro nas listas dos mais vendidos, e com o grupo The Jimi Hendrix Experience percorreu várias cidades europeias com um espetáculo único no qual a fusão de rock, jazz e blues era acompanhada da inconfundível cena em que deixava suas próprias guitarras em pedaços.
As curvas deste instrumento o transformavam na amante mais fiel de Hendrix. A relação de amor-ódio que mantinha com sua guitarra era tanta que, de repente, Hendrix simulava fazer sexo com ela, para mais tarde destruí-la em um ritual violento que deixava o público atônito.
As viagens de LSD o transportavam para um mundo de experiências “sensacionais e misteriosas”, reconhecia o próprio Hendrix. O abuso de todo tipo de drogas durante os anos 60 trouxe desfechos trágicos para vários artistas que, como Janis Joplin, se uniram ao mantra hippie de liberar a mente e morreram aos 27 anos.
O dinheiro nunca o preocupou, só a música, tocar o último acorde, “fumar maconha”. A maturidade o tornou mais reflexivo e o aproximou de uma percepção do mundo mais transcendental, próxima à filosofia platônica: “Comparado com a alma, o corpo é tão insignificante como um peixe no oceano”, disse.
Hendrix morreu em 18 de setembro de 1970 em Londres, em circunstâncias que nunca foram completamente explicadas, após uma ingestão letal de barbitúricos e álcool. Um final indigno para um músico brilhante que não conseguiu realizar um de seus sonhos: “ter meu próprio país, um oásis para gente com mentalidade nômade”, fantasiava.
Sua morte foi somente física. Cada vez que alguém tropeça em um de seus discos o guitarrista renasce e é cumprido seu último desejo: “Quando morrer, só quero que continuem ouvindo meus discos”.
Fonte: Terra